Sim, a transição para as energias renováveis é difícil, é desafiante e é ambiciosa. Mas é também mais barata, respondendo à escalada de preços da energia, e é mais sustentável, mitigando o impacto dos combustíveis fósseis no ambiente. É por isso que, mesmo sendo tão difícil, continua a ser urgente abraçar esta mudança.
Contudo, o desafio não é apenas técnico: é também social, político e ambiental. Exige consciencialização, cooperação de toda a sociedade e um planeamento estratégico que maximize o impacto das políticas públicas e dos investimentos. Mais do que aumentar a produção de energia renovável, importa acelerar a descarbonização, substituir fontes fósseis por energias limpas e garantir a sua integração eficiente na rede. Apenas uma estratégia complementar, que aproveite as forças das renováveis, mas também compense as fraquezas – como a intermitência da produção – pode reforçar eficazmente a estabilidade do sistema.
Um dos pilares para atingir estes objetivos é a eletrificação do consumo, reduzindo progressivamente a utilização de combustíveis fósseis como fonte primária de energia. A eletrificação da indústria, em particular, pode ter um papel predominante se investir nas soluções tecnológicas certas, diminuindo a dependência do gás e do petróleo, reduzindo custos e mitigando a exposição à volatilidade dos mercados internacionais.
Também no setor da mobilidade, o reforço da rede de carregamento e o incentivo ao uso de veículos elétricos podem contribuir para reduzir emissões e melhorar a qualidade do ar nas cidades. Já a integração de sistemas de armazenamento de energia será igualmente essencial para garantir estabilidade à rede e maximizar a produção renovável, sobretudo num contexto de crescimento de indústrias eletrointensivas, como a inteligência artificial e os centros de dados. Neste contexto, a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, anunciou durante o debate do Orçamento do Estado a reprogramação do PRR, que inclui mais 40 milhões de euros destinados a sistemas de armazenamento elétrico, um reforço que sublinha a importância crescente da eletrificação, em especial no setor industrial.
Para além destas medidas estruturais, há tendências tecnológicas que irão marcar o futuro da transição energética. O desenvolvimento de redes inteligentes e de sistemas avançados de gestão energética, por exemplo, será determinante para integrar diferentes tecnologias, abrindo a porta a projetos híbridos de energia solar e eólica, para compensar a variabilidade das fontes renováveis de forma mais eficaz, sem depender apenas da complementaridade natural entre elas.
A forma como gerirmos esta transição vai determinar não apenas o sucesso das políticas climáticas, mas também o tipo de sociedade que deixaremos às próximas gerações. Precisamos de um quadro regulatório claro, estável e ambicioso, que apoie o armazenamento, incentive preços dinâmicos e assegure modelos de negócio viáveis para toda a cadeia de valor, reforçando o papel do agregador.
Não há dúvidas: o futuro da energia será renovável, descentralizado e eficiente. Mas a sua concretização depende do empenho coletivo e, sobretudo, da velocidade com que avançarmos. Só assim construiremos um sistema energético verdadeiramente resiliente, competitivo e estável.
Assinado por:
Daniel Sánchez, Diretor de Engenharia e Construção na BNZ


